quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Um budismo nacionalista e solidário aos povos

Só quando o imperialismo for eliminado pode prevalecer a paz. Dia virá em que os tigres de papel serão liquidados; eles, porém, não se extinguirão por acordo próprio: devem ser abatidos pelo vento e pela chuva.

Mao Tsé-tung

Estranheza, no mínimo, causa a um leitor budista a epígrafe deste texto. Mao Tsé-tung foi e é pintado pelos meios de comunicação das classes dominantes, sobretudo no hemisfério ocidental, como um ditador sanguinário à beira da loucura. Não perderei tempo criticando a caricatura e a desumanização que sempre sofreram e sofrem os inimigos das burguesias nacionais e imperialista. Basta pensar na forma como é apresentada a organização social e os governantes da República Popular da Coréia, a chamada Coréia do Norte. A classe dominante promove sistematicamente a destruição da consciência histórica dos povos como estratégia fundamental para subjugá-lo e impedir a solidariedade entre as nações dependentes contra o imperialismo. No Brasil, pouco ou nada se sabe sobre a Coréia do Norte e a China e, numa invasão imperialista sob o comando dos EUA à Coréia, o brasileiro, graças ao processo de desumanização promovido pelos meios de comunicação dominante, não terá empatia pelos coreanos. O povo brasileiro não se identifica nem com seus compatriotas vizinhos latinos americanos: o bolivarianismo é rotulado pela imprensa burguesa como uma versão da loucura esquerdista na América Latina e os trabalhadores brasileiros seguem submetidos à condição de ignorância em relação à estas questões. Nós, brasileiros, também não nos indignamos contra nossa própria miséria física e moral; não temos genuína solidariedade na luta coletiva contra o genocídio de negros e índios que ainda ocorre no Brasil. Não por coincidência, nossa pátria foi a última a abolir formalmente o trabalho escravo. Por sorte, o tempo não para. O Tao, a Natureza, transforma-se inexoravelmente e, mais cedo ou mais tarde, o povo há de se iluminar sublevando-se contra a opressão e a exploração.
Parece contraditório que um budista fale contra as guerras imperialistas em defesa da autodeterminação dos povos e faça referência à Mao que, como grande líder da revolução chinesa, foi responsável pela ocupação do Tibet. Para a maioria das tradições budistas, Mao é lembrado apenas por causa da ocupação do Tibet pela China popular em 1950-51. Geralmente, essa memória é distorcida pelas causas e condições das quais os próprios budistas são dependentes: o capitalismo. De qualquer forma, não há razão para titubear: sou por um Tibet livre e soberano. Entretanto, não faço coro junto ao imperialismo contra a China que, atualmente, é um gigante do capitalismo mundial e representa uma das tantas revolução atravancadas pelas condições do século XX; muito menos faço coro contra a memória do comandante Mao, pois, ao contrário do que apregoam os filmes hollywoodianos e os ideólogos do capital, a ocupação chinesa no Tibet não pode apenas receber o rótulo moralista “banho de sangue”. Sangue e sofrimento há em todas as guerras e em todos os lados envolvidos. O que os ideólogos do capital ocultam é que a ocupação chinesa foi também a esperança de emancipação celebrada por muitos camponeses tibetanos. Sim, muitos camponeses tibetanos celebraram a esperança de emancipação do trabalho. O lamaísmo, que surgiu por volta do século IX no Tibet, fundava-se no sobretrabalho servil dos camponeses, cujo excedente era apropriado pelos lideres budistas em seus monastérios. O lamaismo como ideologia de estado, tal como existia antes dos anos 1950 no Tibet, já não existe e jamais voltará a existir; agora é, no máximo, apenas uma vertente mundial do budismo. Por isso, é de grande valor a afirmação do atual Dalai Lama de que a primeira geração de comunistas do Partidão chinês era admirável e possuía grande dedicação às causas dos trabalhadores e do povo pobre. Em relação à Mao Tse Tung, o líder tibetano afirmou: "ele me considerava como seu filho, eu o considerava como meu pai; era uma relação muito próxima".
A história é contraditória. Por mais que um marxista tenha uma consciência crítica da história e um budista tenha autoconsciência, nada disso anula as causas e as condições de suas formas de pensar e, além disso, como a verdade não é algo estanque, ninguém a tem como dono, ao contrário, aproxima-se dela sucessivamente e um sábio haverá de saber o quão grande é sua ignorância. Uma visão correta sobre a gênese dependente dos fenômenos não pode obscurecer o fato de que um budista é gerado de forma dependente de suas relações sociais, em outras palavras, pelas condições karmicas. O fato de ser budista, não isenta um indivíduo das causas e condições sociais em que nasce e se desenvolve, ao contrário, o fato de ser budista é consequência destas causas e condições. Atualmente, o capital mundializado é causa de sofrimentos enormes em todo globo, condicionando o modo de ser dos indivíduos; o imperialismo é condição necessária da expansão capitalista e da guerra intercapitalista por novos mercados, recursos naturais e força de trabalho barata. Estas guerras assumem diversas roupagens. Diversas narrativas procuram explicar essas guerras e as mais comuns são narrativas religiosas que justificam, por exemplo, o genocídio do povo palestino pelo criminoso estado de Israel. Essas falsas narrativas ocultam os verdadeiros motivos pelos quais políticos e empresários organizam suas guerras, por exemplo, confundido budistas e mulçumanos em todo mundo sobre a situação de Mianmar. Das causas e condições de seu tempo histórico nenhum ser escapa e o indivíduo, ao tornar-se budista, não se torna exceção à regra. Em Mianmar, budistas estupraram e mataram muçulmanos, mas a “intolerância religiosa” não pode explicar  por si    só essa barbárie que é a corrupção e a ameaça imposta por empresas chinesas e sul-coreanas, estadunidenses, francesas, canadenses e indianas que disputam a exploração do petróleo e gases no território de Mianmar. O capitalismo gera uma visão incorreta sobre a realidade que impede ou dificulta a realização do Dharma. Essa visão incorreta causada pelo capital nas condições do imperialismo tal como ocorre em Mianmar pode ser observada por todo globo, como o monge tailandês Wirapol Sukphol que transformou o Dharma em capital para acumular riquezas e poder, incluindo o poder sobre o corpo de mulheres.
Os que reproduzem as falsas narrativas das classes dominantes permanecem na superfície dos fenômenos não alcançando a essência das coisas; repetem explicações que recebem dos mais diversos meios de comunicação sem se perguntarem quais os interesses dos proprietários destes meios de comunicação em se comunicarem de tal forma: a quem servem? Quem lhes financiam? Essas narrativas acerca dos conflitos imperialistas ocultam a luta entre classes (exploradores/opressores X explorados/oprimidos) em confusos discursos sobre democracia e liberdade, discursos religiosos, étnicos e de relações de gênero que, mesmo constituindo condições importantes para uma correta visão do todo, jamais são causas. A décima primeira estrofe do Dhammapada diz: “Os que imaginam o essencial no inessencial vêem o inessencial no essencial, estes habitam a esfera do falso pensamento e jamais atingem a essência.” Alcançar a essência de algo é descobrir suas causas. A realidade é por demais complexa para aceitarmos passivamente as informações que nos é transmitida por uma empresa ou grupo de comunicação. Como tudo o que é humano tem sua origem na mente, esta transmissão possui uma intenção por trás e é preciso ter uma clara visão sobre essas intenções, sobre os interesses destas empresas e grupos. É necessário se perguntar se a fonte destas informações que chegam até você está comprometida com o oprimido explorado ou com o explorador opressor. Essa pergunta é importante para se desfazer de qualquer ingenuidade acerca do aqui e agora ao qual precisamos estar despertos.
A visão correta implica, dentre outras condições, que superemos nossos preconceitos ou ideias apriorísticas. Neste sentido, a independência do Tibet não se confunde com a defesa do budismo como ideologia de Estado, bem como a defesa do comunismo não significa a defesa das barbáries cometidas em nome do comunismo. Mao Tse-tung, como o próprio XIV Dalai Lama afirma, era admirável e lutava pelo bem das massas trabalhadoras chinesas; o Lama chegou a afirmar que se considera meio budista e meio marxista. Igualmente, não podemos pressupor que um Tibet independente hoje retornaria ao lamaísmo. O tempo não volta. Por isso, defendo a independência do Tibet e, ao mesmo tempo, os ideais de emancipação do trabalho da revolução chinesa de 1949, neste sentido, são os trabalhadores tibetanos que devem decidir sobre suas próprias vidas. Nada deve ser produto da decisão de burocratas de estados que se autoproclamam socialistas e de religiões que se autoproclamam salvadoras e bondosas. Ao povo deve pertencer o seu destino, e o povo tibetano deve exercer a autodeterminação.


O caso brasileiro


O projeto petista, tucano e do bolsonarismo são antinacionalistas e entreguistas. O imperialismo financia o golpe via instituições como a Atlas e outras, com seus subordinados civis como o MBL e subordinados militares como os que apoiam Bolsonaro. Estes falsos nacionalistas entregam e entregarão as riquezas nacionais aos empresários estrangeiros e seguirão assassinando o povo brasileiro que luta pela sua emancipação, como são os camponeses organizados no MST e os trabalhadores sem teto dos centros urbanos. Esses falsos nacionalistas iludem o povo brasileiro a serviço do imperialismo, a serviço desta rede de grandes empresários internacionais que exercem a rapina e a desgraça de povos inteiros pelo planeta. Estaremos atento e seremos oposição ao governo de direita e fascista de Bolsonaro que é antipopular e antinacionalista.
A conjuntura das lutas por independência nacional e emancipação dos trabalhadores se modificou, todavia, os inimigos da verdade e os exploradores do povo continuam sendo tigres de papel, pois as revoluções do século XX, em especial a vietnamita e a cubana, demonstraram que um povo organizado e consciente é capaz de derrotar a mais cruel e feroz máquina de matar do planeta: o imperialismo estadunidense e seus lacaios nacionais como esses militares entreguistas que hoje ocupam o governo e permanecerão ao longo do governo Bolsonaro. A causa da crise em que nos afundamos não é a solidariedade aos imigrantes que buscam refugio no Brasil. Às vítimas das guerras imperialistas, toda nossa solidariedade; não são eles que usurpam nossas riquezas e super exploram nosso povo.
Somos budistas brasileiros, Shin, Zen e de outras tradições unidos pela emancipação do Brasil e de todos os povos que sofrem nas unhas da águia de rapina ianque e seus subordinados (Colombia, Israel, França, Inglaterra, etc). O imperialismo é um tigre agressor, mas quando a nação subjugada perde o medo, o imperialismo se revela um tigre de papel. A visão correta retira a aura do opressor e fornece ao oprimido a força moral e intelectual necessárias para a emancipação; como explica Marx em O Capital, o “(...) indivíduo A não pode se comportar para com o indivíduo B como para com uma majestade, sem que, para A, a majestade assuma a forma corpórea de B (...)”, ou seja, quando o explorador-opressor perde a majestade, seus súditos não o reconhecem como rei. O povo (conjunto das classes subalternas de um Estado-nação) se levanta em luta como uma tempestade: o rei sem majestade ou o tigre de papel é açoitado pelo vento e pela chuva. Abre-se uma época de lutas sociais e revoluções, a mente e o corpo se transformam. Viva o povo brasileiro! Fora o falso nacionalismo que governará o Brasil nos próximos anos! Todo poder ao povo!

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